segunda-feira, 16 de março de 2009

PINTURA EM LUGARES SAGRADOS

Nos últimos dois anos tive a sorte de pintar o chão de um templo hinduísta e dois painéis em uma igreja.
Foi uma experiência maravilhosa, altamente gratificante, que me permitiu aprender novas técnicas de pintura e, ao mesmo tempo, ter experiências de total comunhão da minha alma com a arte e as energias que habitavam estes lugares. Teve muitos momentos, durante a execução das obras, onde desapareceu completamente qualquer noção de tempo ou espaço. Era como se estivesse trabalhando numa bolha de total silêncio e paz.
O chão do templo de BABAJI no Hotel Ponto de Luz foi o primeiro trabalho. Babaji foi um homem santo indiano que veio ao Brasil em 1999, ficou durante 12 dias atendendo centenas de pessoas com aconselhamento, cura e meditação num templo construído especialmente para ele no hotel Ponto de Luz. Sem passar por nenhum outro lugar do Brasil, retornou à Índia, onde faleceu três anos depois. Babaji transformou minha vida, pois foi ele que me aconselhou a ser artista (até então eu era terapeuta corporal do hotel), segui seu conselho e deu o que deu. Fisicamente, pintar esse chão foi duro, me demandou um mês trabalhando de joelhos e mais um mês para os coitados se recuperarem. Mas o lugar, com muito mato ao redor, do lado de um rio, pertinho de uma cachoeira, é certamente mágico. A energia de BABAJI e dos rituais e meditações que Ele fez durante sua estada no Brasil, ainda está presente de uma forma muito poderosa, por vezes quase física.
Foi um tempo mágico. Sempre que surgia alguma dúvida sobre o que fazer, como resolver alguma questão, se estava no caminho certo, era só olhar para a foto do Velhinho sorridente ou para os quadros das paredes (Buda, Ganesh, Shiva, Vishnu) que eles, com seus olhares, de alguma misteriosa maneira me transmitiam a resposta certa. Era uma sintonia além das possibilidades racionais, à qual me entreguei totalmente e que criou em mim sensações de total plenitude. Tal vez por isso, o trabalho ficou agradável ao olhar e poderoso energeticamente. E foi concluído em muito menos tempo do que o esperado.







A igreja de São Sebastião, no vale do Sertãozinho em Joanópolis foi um outro grande desafio. Ela exigiu muito planejamento espacial e vários esboços até chegar ao modelo e tamanho definitivos. Foram duas obras, pintadas diretamente sobre as paredes ao lado do altar. São Sebastião do lado esquerdo e Nossa Senhora do lado direito.
Para pintar São Sebastião, tirei muitas fotos do vale e decidi usar a paisagem do lugar como pano de fundo, com o santo abençoando e protegendo o que resta das nossas matas. A árvore onde ele está amarrado existe de verdade e é tão um fenômeno em si que resolvi colocá-la em destaque. Ela nasceu no meio de uma rocha gigantesca e cresceu abrindo-se caminho ao partir a pedra em pedaços. Considero esta arvore um símbolo de tenacidade, perseverança, falta de ansiedade e inteligência para agir na hora certa, um exemplo a ser seguido. A frágil, mas flexível madeira procurando pacientemente uma fissura na rocha, exercendo a pressão certa, esperando o tempo adequado, com o sol de verão a esquentá-la e uma chuva rápida a esfriá-la logo depois. Assim, no momento certo, nem antes nem depois, a árvore rompe a poderosa, mas rígida pedra. Não é um ótimo tema para meditação?


(esbolço de São Sebastião)


(detalhe da moldura)





Pintei Nossa Senhora no alto de uma pilastra, abençoando o lugar. Usei no seu olhar, uma técnica dos antigos mestres que faz parecer, desde qualquer lugar da igreja, que ela está olhando com compaixão e amor nos olhos de quem olha para ela.
Eu particularmente, cada vez que olho para Nossa Senhora, a vejo com a mesma energia, infinitamente doce e purificadora, de Quan-Yin, a deusa da compaixão no budismo tântrico.



(esbolço de Nossa Senhora)



(detalhe da pilastra)