
Vivo há dez anos em Joanópolis, 130 km ao nordeste da cidade de São Paulo, fronteira com Minas. Um lugar paradisíaco cheio de serras, rios e cachoeiras. Desde que aqui me instalei até hoje, tenho presenciado, com horror crescente o desmatamento avançar em proporção geométrica ao “crescimento econômico” da região. Hoje devem restar apenas 10% das florestas nativas, que ainda assim continuam riquíssimas em diversidade (mas não mais em quantidade) de flora e fauna. Mas é claro que estas florestas, reduzidas a um exílio forçado nos topos dos morros, conseguem abrigar somente um número limitado de espécies e indivíduos pois simplesmente não há comida nem espaço suficiente para todos.E agora, com a chegada do plantio maciço de eucalipto, a mais nova praga estabelecida nas serras, a mata nativa está, assustadoramente ficando cada vez menor!
Também conhecido como “O Deserto Verde”, o eucalipto está tomando conta, a passo acelerado do pouco que restava da floresta no topo dos morros. A Votorantim, que recentemente comprou a empresa de produção de mudas de eucalipto: Aracruz (uma das maiores do mundo) está povoando a serra da Mantiqueira com mudas “doadas” aos agricultores da região.Eles ainda dão consultoria técnica aos agricultores e compram a primeira safra. Sem dúvida nenhuma, uma oferta tentadora demais pra ser recusada.
A “Casa da Agricultura” de Joanópolis, por exemplo, está oferecendo, DE GRAÇA, 8000 mudas de eucalipto por agricultor. Enquanto cobra R$ 1,00 por muda de árvores de espécies nobres, a maioria em processo de extinção, como mogno, jacarandá, etc. que são árvores de madeira de qualidade infinitamente superior mas de crescimento lento.


O Eucalipto é uma espécie altamente competitiva e nenhuma árvore de outra espécie consegue se desenvolver perto dele. Ele exaure totalmente os nutrientes do terreno, pois seu crescimento é muito rápido e o corte a cada 4 anos não dá tempo à terra de recuperá-los. É por isso que, a cada safra a planta (e sua utilidade econômica) fica menor. O tempo comercialmente útil do eucalipto é de 12 anos, ou 3 colheitas. Depois disso ele só serve para lenha.
A plantação de eucalipto é, na verdade, uma armadilha para o agricultor pois, o que ele fará depois de 12 anos com essa terra arruinada? A esta altura ela já esta sem água, com um solo compacto demais, cheio de tocos de árvores dos quais saem uns galhos patéticos de tão fininhos, degradado de quaisquer nutrientes e no qual nada mais consegue vingar.
Além disso, a raiz do eucalipto cresce em proporção direta à sua altura e é praticamente impossível de extraí-la, somente com um trator especial e a preços exorbitantes, o que torna o terreno comercialmente inviável de utilizar depois. Algumas pessoas colocam “mata-raiz”, um produto químico que a apodrece. Mas é um veneno terrível que contamina a terra por anos e, como a raiz é muito profunda, este veneno desce por gravidade e contamina também o lençol freático.
Tudo isto é feito sem o mínimo estardalhaço, pois nunca se fala sobre este assunto na imprensa. Não há campanhas para alertar a população sobre o desmatamento intensivo que a Mantiqueira está sofrendo ou sobre a destruição dos seus mananciais devido ao assoreamento causado por este desmatamento.
Quem se interessar por este assunto, por favor divulgue-o, faça estardalhaço, crie grupos de discussão, apresente soluções alternativas.
Este blog continuará a divulgar estes assuntos periodicamente e está aberto a todos os que quiserem expressar sua opinião.
Obrigado, Alex.