quarta-feira, 22 de abril de 2009

A MANTIQUEIRA PEDE SOCORRO!

EUCALIPTO, a nova praga da Serra da Mantiqueira: 


Vivo há dez anos em Joanópolis, 130 km ao nordeste da cidade de São Paulo, fronteira com Minas. Um lugar paradisíaco cheio de serras, rios e cachoeiras. Desde que aqui me instalei até hoje, tenho presenciado, com horror crescente o desmatamento avançar em proporção geométrica ao “crescimento econômico” da região. Hoje devem restar apenas 10% das florestas nativas, que ainda assim continuam riquíssimas em diversidade (mas não mais em quantidade) de flora e fauna. Mas é claro que estas florestas, reduzidas a um exílio forçado nos topos dos morros, conseguem abrigar somente um número limitado de espécies e indivíduos pois simplesmente não há comida nem espaço suficiente para todos.E agora, com a chegada do plantio maciço de eucalipto, a mais nova praga estabelecida nas serras, a mata nativa está, assustadoramente ficando cada vez menor!

 

Também conhecido como “O Deserto Verde”, o eucalipto está tomando conta, a passo acelerado do pouco que restava da floresta no topo dos morros.  A Votorantim, que recentemente comprou a empresa de produção de mudas de eucalipto: Aracruz (uma das maiores do mundo) está povoando a serra da Mantiqueira com mudas “doadas” aos agricultores da região.Eles ainda dão consultoria técnica aos agricultores e compram a primeira safra. Sem dúvida nenhuma, uma oferta tentadora demais pra ser recusada.

A “Casa da Agricultura” de Joanópolis, por exemplo, está oferecendo, DE GRAÇA, 8000 mudas de eucalipto por agricultor. Enquanto cobra R$ 1,00 por muda de árvores de espécies nobres, a maioria em processo de extinção, como mogno, jacarandá, etc. que são árvores de madeira de qualidade infinitamente superior mas de crescimento lento.

Fico pensando: Aonde irão esses animais que viviam nas florestas derrubadas? Pois no eucaliptal nenhum pássaro faz ninho, os macacos, esquilos e outros pequenos mamíferos também não conseguem viver nele, em conseqüência, as onças ficam sem comida e saem para procurar sua caça entre o gado, e ai são mortas pelos fazendeiros.Um círculo vicioso de destruição que se auto-alimenta até simplesmente, num futuro não muito distante, desaparecer todo rasto da fauna original. 


O Eucalipto é uma espécie altamente competitiva e nenhuma árvore de outra espécie consegue se desenvolver perto dele. Ele exaure totalmente os nutrientes do terreno, pois seu crescimento é muito rápido e o corte a cada 4 anos não dá tempo à terra de  recuperá-los. É por isso que, a cada safra a planta (e sua utilidade econômica) fica menor. O tempo comercialmente útil do eucalipto é de 12 anos, ou 3 colheitas. Depois disso ele só serve para lenha.

A plantação de eucalipto é, na verdade, uma armadilha para o agricultor pois, o que ele fará depois de 12 anos com essa terra arruinada? A esta altura ela já esta sem água, com um solo compacto demais, cheio de tocos de árvores dos quais saem uns galhos patéticos de tão fininhos, degradado de quaisquer nutrientes e no qual nada mais consegue vingar.

Além disso, a raiz do eucalipto cresce em proporção direta à sua altura e é praticamente impossível de extraí-la, somente com um trator especial e a preços exorbitantes, o que  torna  o terreno comercialmente inviável de utilizar depois. Algumas pessoas colocam “mata-raiz”, um produto químico que a apodrece. Mas é um veneno terrível que contamina a terra por anos e, como a raiz é muito profunda, este veneno desce por gravidade e contamina também o lençol freático.

Tudo isto é feito sem o mínimo estardalhaço, pois nunca se fala sobre este assunto na imprensa. Não há campanhas para alertar a população sobre o desmatamento intensivo que a Mantiqueira está sofrendo ou sobre a destruição dos seus mananciais devido ao assoreamento causado por este desmatamento.

Quem se interessar por este assunto, por favor divulgue-o, faça estardalhaço, crie grupos de discussão, apresente  soluções alternativas.

Este blog continuará a divulgar estes assuntos periodicamente e está aberto a todos os que quiserem expressar sua opinião.

 Obrigado, Alex.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O trabalho com toras, junto com as peças feitas a nanquim, constituem minha nova produção. Este trabalho começou por que era época do corte de eucalipto na região onde vivo e numa das minhas andanças, uns galhos caídos, restos do corte, me chamaram a atenção pela forma, textura e cor. E eu, que sempre ando à procura de materiais diferentes para transmutar em obras, achei assim uma fonte inesgotável de belíssimos suprimentos. Além disso, pintar em superfícies tridimensionais requer uma forma de trabalhar (e pensar) bem diferente da pintura em superfícies planas, o que representa um novo desafio técnico, coisa que eu amo, pois sempre me abre novos horizontes para expressar a criatividade. 


Se o trabalho a nanquim se pode comparar à música clássica na sua composição de encaixes matematicamente precisos, costumo comparar a pintura em toras com o Jazz, pois sempre parto de uma figura ou tema central e vou improvisando o que vem a seguir. Fico brincando com o erro, usando-o como auxiliar da criação, um transformador  que, mudando a seqüência, abre novos caminhos. 




Uma idéia se desenvolve em outra, sem planejamento prévio, eu só sigo o que me dizem a cor, a forma e a textura da peça, sempre atento ao que ela sussurra em meu coração numa linguagem que é, ao mesmo tempo, uma mistura de feliz liberdade e adrenalina correndo pelas veias. Dá até para sentir um medinho gostoso antes de começar a pintar ou quando chego num lugar de difícil solução e devo achar alguma saída alternativa um pouco  mais ousada. 





Nestas esculturas pintadas (ou pinturas tridimensionais) uso geralmente látex e  lápis de cor, com uma fina camada de verniz fixador para permitir que a madeira, que continua viva por muito tempo após o corte, continue se transmutando. Quanto mais antiga a madeira, mais bela ela fica.